sábado, 14 de julho de 2012

COMBATE ÀS TREVAS – II (A QUESTÃO DAS DROGAS) - AUTORIA DE EDUARDO GOSSON.

COMBATE ÀS TREVAS - II (A QUESTÃO DAS DROGAS)
Por Eduardo Gosson(*)


ANJO FERIDO


para Fausto Gosson

“Não se pode ferir as asas de um anjo,
mas o fizeram nas franjas da noite;
as ruas traem a quietude da casa,
a paz do Senhor é bandeira defraudada.
Não se deve dizer mais que herói é o homem
com seus sonhos, seu vigor, espada e nome,
se as fantasias de querer mais que o céu na terra
tornam impura a estrada, dilui passos em quimeras.
(Meu querido menino, santos eram teus olhos,
o Senhor da paz está contigo em óleo)
Não fica impune o que rouba a inocência,
O barro de Deus é obra de Suas mãos.
Esta aliança não é perdida no azul do infinito,
ainda que a mordida do tempo rasgue o manto.
Uma criança chora no pai que enterra a semente,
mas ele tem a esperança de um dia ouvir o canto
do que hoje em letra e coração dorme eternamente.”

Alexandre Abrantes

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O Estado no Brasil e, em particular, no RN não tem uma política para tratar os dependentes químicos. Senão vejamos a situação dos três hospitais que “cuidam” do problema:
Hospital João Machado. Referência no passado em Psiquiatria, hoje está na contramão: projetado para atender as doenças mentais, atualmente os doentes mentais lá assistidos são em torno de 10%; os 90% restantes são dependentes químicos que lá permanecem por no máximo uns 15 dias até terem alta, ficando à-toa; os novos medicamentos para combater a dependência, não tem;no menu, só há medicamentos básicos para as doenças mentais. Para completar o quadro, as mentes iluminadas da Secretaria de Saúde resolveram abrir novas enfermarias, misturando doenças mentais, dependência química e doenças comuns. É sabido de todos que um paciente com doença mental em crise pode fazer loucuras com os demais. Tenho pena de um diretor de um hospital nestes moldes: viverá sendo chamado pelo Ministério Público ou Conselho de Medicina para se explicar ou explicar o inexplicável.
Casa de Saúde Natal. Do saudoso Severino Lopes, um pioneiro no tratamento das doenças mentais é, ao nosso ver, o pior dos três, uma vez que é todo verticalizado, parecendo um campo de concentração. Praticamente, não tem área verde.
Clínica Santa Maria. Atendia ao SUS até recentemente, quando sérias denúncias fizeram com que a mesma fosse descredenciada. Se antes estava ruim, agora ficou pior. Já tive filhos internados lá por causa da dependência química. Pude constatar que os traficantes em motos jogavam a droga por cima do muro. Tive certa vez a oportunidade de relatar para a senhora Marione, esposa do Dr. Agamenon Fernandes, proprietário da clínica. Solução imediata: mandaram subir em torno de um metro o muro, mas o problema continua porque diz respeito a todos nós. Em vez de jogarmos o problema para debaixo do tapete, precisamos empreender um COMBATE ÀS TREVAS.
Nos últimos 15 anos, na esfera municipal, foi criado outro modelo: CAPS, no rastro da antipisiquiatria, que funciona precariamente. É a política do faz de contas. Partiu-se do velho modelo para um “novo” duvidoso. Tem estados da Federação que a turma do PT conseguiu colocar na Constituição do Estado, que a partir da Promulgação do texto legal, nenhum hospital psiquiátrico seria mais construído. Resultado: nem funciona o velho e o “novo”: estamos nas trevas.
(*) É Escritor. Presidente da União Brasileira de Escritores - UBE/RN. Perdeu recentemente um filho, vítima de overdose de cocaína.

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