sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

"EU NÃO SABIA QUE DOÍA TANTO – III" EDUARDO ANTONIO GOSSON.

EDUARDO ANTONIO GOSSON
EU NÃO SABIA QUE DOÍA TANTO – III
Por Eduardo Gosson(*)


Hulimase Gosson. Hulimase em árabe significa brilhante. Nasceu em Maranguape/CE no dia 29 de agosto de 1926. Era a filha mais velha dos irmãos pertencentes a Antonio/Sofia. Muito precoce, aos 12 anos de idade já estava montada numa máquina de costura para ajudar aos familiares. Vindo seus pais para o Rio Grande do Norte em plena Segunda Guerra Mundial, aqui montou um ateliê de moda e foi pioneira no ofício de fazer saias plissadas: costurou de Maria Boa ao Dr. Januário Cicco. Quando a maternidade foi inaugurada, ela fez todas as cortinas para aquela instituição. Dr. Januário Cicco se apaixonou e propôs-lhe casamento. Certa vez declarou: “—Ele era muito feio. E não o amava para casar”.
Quando meus avós morreram, foi figura central em nossas vidas. Passou a ser arrimo de família. De estatura pequena, era dinâmica e autoritária: uma verdadeira matriarca. Quando falava todos os irmãos se calavam. Seu irmão José Gosson, desembargador recentemente falecido, formou-se em Alagoas, tendo sido financiado por ela. Muitas vezes ele viajava apenas com o dinheiro da ida. O da volta ainda ia apurar. Certa vez, José Gosson e seu colega de turma Ticiano Duarte, fizeram uma farra e gastaram todo o dinheiro da volta. Para ela e para a minha segunda neta, escrevi:
Canção para Hulimase:
“Brilhante em Árabe,
Dos cedros do Líbano
Para o Nordeste brasileiro.
Aqui implantou o Reino do Matriarcado
Amamentando a todos nós.
No eterno
Nascer/morrer
Partiu para o infinito.
Agora renasceu em Hulimase Maria
Que veio ao mundo
Para renovar o milagre da vida
E trazer alegria para todos nós
--- Ave, Hulimase!”

Como tudo está datado e comprimido pelas margens, partiu deste mundo em 08 de julho de 2002 às 1h30 da madrugada, após uma dolorosa enfermidade: câncer no fígado. Eu fui o último dos Gosson a vê-la porque, naquele dia, naquele turno, era a minha vez de ficar com ela (os familiares fazíamos um rodízio). As imagens que agora ralato me acompanham para sempre: presenciei o câncer estourar e a perda total de sangue pelo ânus. O correcorre dos enfermeiros, a UTI e a indesejada das gentes chegar. Cenas muito forte.
Aqui na Terra só fez o bem: era generosa porém muito controlada. Fez um Testamento Público, deixando para os sobrinhos os seus bens. A mim deixou a tarefa de ser seu testamenteiro, o que farei com todo amor brevemente com a abertura de inventário. Anjo a nos proteger, imagino sua chegada no Céu. Aqui peço os versos de Manuel Bandeira (a poesia é para quem dela precisa):
“Dá licença, São Pedro?
E São Pedro Bonachão:
- entra, Hulimase!
Você não precisa de pedir licença!”
Amigos e amigas: “-Eu não sabia que doía tanto”
(*) Escritor e poeta. Preside a União Brasileira de Escritores – UBE/RN

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