terça-feira, 20 de agosto de 2013

ENCONTRO COM A POESIA - GONÇALVES DIAS - TEXTO DE HORÁCIO PAIVA.

GONÇALVES DIAS
HORÁCIO PAIVA

Este encontro me remete a um tempo pessoal já antigo: 1965, quando eu tinha 19 anos, na casa de meu irmão Daltro, em Macau, no calor da tarde, antes do vento Nordeste soprar. Ali encontrei o romântico Gonçalves Dias, emocionado e inspirado (algo, aliás, próprio dos românticos), no torvelinho estético da dor e da poesia em que se envolvera, ao relembrar a paixão amorosa de sua juventude, podada pelo destino, e com maestria exposta em seu notável poema “Ainda uma vez - adeus!”, o qual Daltro declamava, com ávido entusiasmo. Trata-se de poema dos mais belos e também dos mais vivos do romantismo latino-americano. Algo prosaico, confessional, e sobretudo humano, confere-lhe ares de modernidade. Claro, não foi o primeiro Gonçalves Dias que vi, pois já conhecera o da “Canção do Tamoio” (quase uma oração de otimismo e força) e o da “Canção do Exílio” (quase um hino - e estando, de fato, algumas de suas expressões no Hino Nacional), e vários outros, desde remotíssimos tempos escolares. Já se chegou a dizer que a “Canção do Exílio” é o maior fenômeno de intertextualidade da cultura brasileira, tal o número de produções sequenciais que gerou. Estes - aos quais acrescento “I – Juca-Pirama” (“o que será morto”, considerado o ponto mais alto da poesia indianista) e “O Canto do Piaga” -, todos belos poemas, tratando de povo e terra pátria, têm a natureza do romantismo social, segmento da escola romântica tão ao gosto dos italianos e também explorado por outro grande poeta nacional, o baiano Castro Alves - com as cores da política e do protesto. Com efeito, duas vertentes jorram da sensibilidade estética de Gonçalves Dias. Ambas de águas límpidas, mas torrenciais: uma, épica, social, nacional, indianista e naturalista, que exalta e defende o povo originário - os Índios - a natureza exuberante do Brasil tropical, em que os mencionados poemas são exemplos; outra, amorosa, íntima, sentimental, individualista. Pérolas desse romantismo intimista, lírico, autobiográfico e emocional (cujo subjetivismo constitui a sua característica emblemática, por vezes chegando a definir o cerne da própria escola) são, sem dúvidas, os seus poemas “Olhos verdes”, “Não me deixes” e “Ainda uma vez - adeus!”. Este último, especialmente, que traduz episódio dos mais intensos de sua vida - quando o poeta sentiu a mão pesada e dura do áspero destino, como diria José Albano -, chega a resultado lírico dos mais sublimes. Ao final desta resenha, transcrevo nota do poeta e tradutor Onestaldo de Penafort, redigida sobre o assunto, a pedido de Manuel Bandeira. Nasceu Antônio Gonçalves Dias em 10 de agosto de 1823, no sítio Boa Vista, Município de Caxias, Maranhão, e faleceu em 3 de novembro de 1864 (aos 41 anos), tragicamente, quando retornava da Europa, no naufrágio do navio Ville de Boulogne, na costa daquele Estado (mais precisamente no baixio dos Atins, em frente à Ponta da Boa Vista, perto de Tutóia). Foi, aliás, o único a morrer: esquecido em seu leito, agonizante, com a tuberculose em fase avançada, afogou-se. Era filho de pai branco e mãe índia ou cafusa (mestiça de africano, negro, com índio). Seu pai, o comerciante português João Manuel Gonçalves Dias, se refugiara com a amante, Vicência Ferreira, no sítio onde nasceu o poeta, para escapar a perseguições políticas de nacionalistas radicais. Nunca legalizou essa união conjugal, encerrada por ele, que se casou com outra mulher, mas mantendo a guarda do filho, afastado assim da mãe com apenas 6 anos de idade. Anos depois, havendo-lhe morrido o pai, o poeta contou com o apoio da madrasta, que o mandou estudar em Portugal. Ali, na histórica Universidade de Coimbra concluiu seu curso de Direito, retornando ao Brasil em 1845. O período passado em Portugal foi muito importante na formação de Gonçalves Dias. Além de seu curso universitário, estudou língua e literatura de vários países: França, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália. E teve contato com vários escritores do romantismo português, entre eles Alexandre Herculano, Almeida Garret, Feliciano de Castilho. Também em Coimbra escreveu os “Primeiros Cantos”, parte dos “Segundos Cantos” e, em 1843, aquele que viria a ser o seu poema mais famoso e mais reproduzido e conhecido em nosso País: a “Canção do Exílio”. De volta ao Brasil, exerceu diversos cargos públicos, desde professor de Latim e História do Brasil no renomado Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, oficial da Secretaria de Negócios Estrangeiros (o que lhe deu novas oportunidades de viagens ao exterior) a membro da Comissão Científica de Exploração. Mesmo nesta apertada síntese biográfica, não pode faltar a citação desses episódios escritos pela mão do destino e que marcaram o poeta: seu encontro e paixão imediata por Ana Amélia Ferreira do Vale, em 1851, no Maranhão, e, no ano seguinte, 1852, a rejeição, pelos pais dela, do pedido de casamento, motivada pela origem bastarda e mestiça do poeta. Voltando ao Rio, nesse mesmo ano de 1852, casou com Olímpia Carolina da Costa, mas não foi feliz. Dela separou-se em 1856. Tiveram uma filha, que morreu ainda na primeira infância. Produziu uma extensa obra literária. Além de poeta, teatrólogo, romancista, etnógrafo, historiador, advogado, professor, exerceu o jornalismo. Estudioso do idioma Tupi, escreveu um “Dicionário da Língua Tupi”, impresso em Leipzig, Alemanha, pela editora Brockhaus, em 1858. Como poeta, publicou: “Primeiros Cantos” (1846), “Segundos Cantos” (1848), “Últimos Cantos” (1851), “Os Timbiras” (1857), “Cantos” (1857). Após sua morte, são publicados os poemas então inéditos de “Lira Vária”, em 1869. À exceção de “Os Timbiras” e “Cantos”, editadas em Leipzig, as demais o foram no Rio de Janeiro. 
 GONÇALVES DIAS (n. 10/08/1823, Caxias; m. 03/11/1864, costa do Maranhão).

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OBS: IMPOSSIBILITADA TECNICAMENTE PARA COLAR OS POEMAS, DEIXAREI PARA FAZÊ-LO DEPOIS.

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