domingo, 26 de fevereiro de 2012

BREVE APRECIAÇÃO DO ESCRITOR PORTUGUÊS, CARLOS MORAIS DOS SANTOS, SOBRE O LIVRO DE EDUARDO GOSSON - "ENTRE O AZUL E O INFINITO".

CARLOS MORAIS DOS SANTOS

APRECIANDO A POÉTICA DE “ENTRE O AZUL E O INFINITO”
DO POETA EDUARDO GOSSON

Neste livro, o poeta Eduardo Gosson, está ali, pairando suavemente, na beleza do "Entre o Azul e o Infinito", na essência da sua estética fina e sutil.

Tudo é claro, simples, belo, profundo e complexo, mas transparente e puro, como a cristalina água que brota da fonte original da montanha! Tudo está ali bem à flor dos sentidos.

A leitura dos poemas desse livro “Entre o Azul e o Infinito”, de Eduardo Gosson, fez-me pensar que o poeta transporta no pulsar do seu sangue libanês, a elevação estética e poética da grande tradição da sublime e superior poesia que, das culturas do próximo oriente, durante séculos iluminaram a poesia universal. Talvez inconscientemente, o poeta não se aperceba de que, compulsivamente, transporta e exprime esse legado e o oferece.

É um livro que apetece revisitar e reler, para em cada nova releitura apurar e sentir mais o perfume delicado das emoções éticas, estéticas e poéticas da poesia de Eduardo Gosson. Para mim, foi uma descoberta e inesperada surpresa agradável, no quadro da poesia Potiguar, de que tenho lido bastante, mas não o suficiente. Descoberta que me emocionou e seduziu.

Esta Solar Terra Potiguar é, sem dúvida, uma região do Brasil - país que viajei quase de ponta a ponta em torno de 40 anos - onde, quer no litoral, quer no interior, se sente e respira certa magia mística, espiritual, e um sortilégio que captura sedutoramente os nossos sentidos e emoções. Sente-se esse mistério tanto nas serras, como no sertão e no cerrado, tanto na contemplação das dunas, como na beleza do deslizar do Potengi para o oceano, tanto nos segedos do Mangue e da Mata Atlântica, como na magia pictoral dos esplendorosos por-do-sol. Aqui, nesta Terra Potiguar, talvez ainda devam morar alguns Bons Deuses, aqui recolhidos do caos que os homens construíram à sua volta.

A minha alma lírica e os meus “olhares” e “sentires” de poeta que fotografa, se sentem, sem eu querer objetivamente, com frequência, afagados por esses mistérios, que sinto na fresca brisa marítima que acaricia a minha face, no sol que me ilumina interiormente depois da chuva morna que me lava a alma, nos segredos cantados pelos mangues e matas, no cheiro da terra molhada, nas gotas de pérolas cristalinas que brilham nos braços das verdes plantas do meu jardim, no sorriso sensual que se nos oferecem as rosas e orquídeas selvagens que adornam as ocasionais caminhadas nas matas, no pentear dos canaviais ondulados pelo vento, na sinfonia do chilrear dos pássaros que frequentam a minha “Vila Verde”, em Ponta Negra.

Desde há vinte anos, quando comecei a me enamorar por Natal e a ficar aqui todos os anos, por algum tempo de férias, até decidir consentir ceder à sedução e ao enamoramento de Natal e construir a nossa residência, que eu comecei a me sentir possuído por esses encantamentos, esses sortilégios, essas místicas magias de Natal e da Terra Potiguar, o que me faz confessar, com frequência, que já me sinto um Luso-Potiguar, expressão de profundo sentido para mim, porque me faz sentir que a minha alma de oriundo da mítica origem da Luz - Citânea - dessa terra da “Luz quase única em azul profundo, intenso e brilhante do céu ímpar” dessa misteriosa “Finisterra”, onde, como cantou Camões:“...a terra acaba e o mar começa...”, cheia de encantamentos e sortilégios de enamoramento, cantados desde Ulisses - o mitológico grego que, dizem as lendas, terá chegado a Lisboa, aí se deixou prender pela sedução da beleza do lugar, que resolveu se demorar e fundar a minha cidade natal, de Lisboa, palavra que, etimologicamente, alguns linguístas atribuiem ao étimo “Ulissipus”.

Isso poderia explicar a razão de Ulisses ter se demorado ainda um pouco mais, até encontrar os bons ventos de volta à sua amada e saudosa Penélope, que lá ía tecendo de dia e desfazendo à noite, o belo tapete que inventara tecer, como desculpa, para fazer esperar seus pretendentes poderosos, a quem, então, a bela e cobiçada Penélope, servindo-se da artimanha do tapete, prometera escolher um deles, sim, mas só quando o tapete ficasse pronto antes do regresso do herói Ulisses, já não crível pelos seus adversários, mas estava bem vivo na esperança amorosa da apaixonada Penélope, que sempre acreditou que seu amado herói haveria de chegar a templo de expulsar os ambiciosos adversários.

Valeu bem a Penélope o estratagema do tapete, e a Ulisses que chegou a tempo de conservar a sua amada esposa. Desta lenda dos longos anos que levou Ulisses a regressar à sua bela ilha de Ítaca, fiquei sempre com o pensamento de que, mais que as ninfas e deusas que o prenderam, mais que os ciclopes gigantes que o quizeram aniquilar e devorar, o que realmente fez demorar muito para além do tempo previsto o seu regresso a Ítaca e a Penélope, esteve noutra verdade que o impossibilitou de regressar, como queria, bem mais cedo, daquela aventura em que se havia distanciado ousadamente para fora do mediterrâneo e se havia perdido, com grandes dificuldades de rumar quando cria de volta a Ítaca.

É que Ulisses, como todos os mareantes do seu tempo e até ao séc.XIV, só sabia navegar com ventos de popa e, perdido na imensa aventura náutica, só podia empreender a navegação de volta a Ítaca, quando a demorada ronda anual dos ventos alíseos favoráveis à direção do regresso, voltavam a soprar na vela de popa de seu rudimentar navio.

Se fosse um português de uns milênios depois, teria revolucionado as ciências, técnicas e artes de navegação, inventando os aparelhos de medir a longitude e altitude pelas estrelas e navegado com velas giratórias em mastros que permitiriam a Ulisses, como permitiram aos portugueses, pela primeira vez na história da navegação marítima da humanidade, já não seriam obrigados a navegarem para onde os ventos ou marés obrigavam, como obrigaram Ulisses, mas a navegarem para onde os portugueses do séc.XIV, XV e XVI, impuseram aos elementos que queriam ir, mesmo “contra ventos e marés”.

De toda esta história de mitos e lendas, ficaram para os portugueses de Lisboa a designação até hoje usada de serem Ulissiponenses, ou Olissiponenses. Na gíria moderna, são designados seriamente por Lisbonenses, ou mais engraçada e comummente por Lisboetas, ou ainda, mais troceiramente por Alfacinhas - esta última designação, que é um apelido já pouco lembrado, deriva do fato de até à Lisboa do século XIX, haver ao redor de Lisboa a maior concentração de hortas do país, que abastecia a capital de produtos horto-frutiferos, incluindo as muito apreciadas alfaces.

Ficou-nos também as heranças e legados culturais da poesia vinda da cultura greco-romana antiga e, também muito da grande poesia de outros povos mediterêneos de ricas culturas, e que nos colonizaram por algum tempo, como foram os fenícios, cartagineses e árabes, este últimos, senhores de uma cultura e ciências avançadíssimas, que nos colonizaram por mais de 600 anos e nos deixaram a herança de uma das mais belas poesias da história da cultura.

O resto que completa esta alma poética dos Lusitanos, é semelhante ao que povoa o espírito poético dos Potiguares. É, como já referi, o sortilégio dos encantamentos líricos que as belezas e os elementos naturais dos lugares fazem inspirar e que acabam por se “inscrever no ADN (DNA) cultural que pulsa no sangue dos poetas: O Sol e a Luz que brilham mais, as serras, as montanhas, as planícies, as matas, as florestas, o mar e os rios que desenham encontros de enamoramento, os ventos, as brisas que sopram carícias e músicas, as paisagens pictóricas, o clima benovolente, e as gentes de coração aberto ao amor e a todos os romamtismos líricos.

E, julgo eu, que é tudo isto que irmana as almas poéticas de regiões como a Terra Potiguar e a Terra Lusitana. Nossa alma poética é natural, intrínseca, visceral, está no nosso espírito sonhador que aprendeu a sonhar e a visionar as lonjuras e profundidades da alma e porque nas nossas veias corre o sangue poético de nossos avós ancestrais, habituadosao canto dos ventos que dedilham a música poética atravessando os pinheirais de Portugal, as matas atlânticas do Brasil e da Terra Potiguar, ou vindo das florestas de cedros do Líbano. Tudo isto se junta para sabermos compor e cantarmos baladas ou sinfonias poéticas.

Tal como da Terra Potiguar, também há séculos se diz de Portugal, que somos Terra de Poetas. Que em cada português, reside uma alma poética, que tem como “fado” (destino) cantar.Como se diz que em cada Potiguar habita um espírito trovador que poetisa e canta.


Aqui, no Rio Grande do Norte, sobretudo em Natal, a poesia alcança foros de linguagem tão ricamente expressa e tão generalizadamente praticada, apreciadae enaltecida, desde a mais erudita à mais popular repentista ou de cordel, que a poesia aqui, parece estar de fato correndo nas veias dos Potiguares e integra o ADN (DNA) intelectual dos norteriograndenses.

Também porque Natal - como Lisboa em particular e a Lusitânea (Luz-Citânea - Terra da Luz), em geral - é uma terra de grande luminosidade solar, de doces brisas marinhas, em que o espírito estético dos potiguares vai encontrando nas vagas ondulantres das suas dunas douradas e nabeleza do recorte das suas imensas e formosas praias, os estímulos de inspiração para cantar o que sente e vê nesta terra “onde a mata acaba e o mar começa a nos oferecer o abraço morno das suas águas lustrais”, e a compelir a imaginação estética para gerar uma terra de poetas, mas também de pintores e artistas.
A poesia, aqui, parece, sim, ser a liguagem do espírito potiguar!

E descubro agora, que entre os melhores poetas potiguares comtemporâneos - alguns de que sou amigo e leitor-admirador, Eduardo Gosson está, seguramente, entre os melhor dotados de uma poética visceral, mas fina e pura, musical e sublime, como os sons inconfundíveis que saem do dedilhar das cordas de uma antiga lira lusitana-potiguar, ou de um alaúde árabe ou libanês.

Do seu belo livro “Ente o Azul e o Infinito”, delicio-me com o que há de melhor na poesia potiguar contemporânea que conheço. Retenho, como exemplo, entre muitos outros poemas que igualmente me tocaram bastante, o belíssimo e comovente poema de que o poeta extraiu o feliz título para o livro. Tem versos de uma filigrama de ouro fino:

“mamãe, minha mãe e mãe”
De Eduardo Gosson

De olhos florestais
E cabelos cor de mel,
Amava-nos.
Entre nós grandes silêncios!

No meio, a “Rua do Motor
com urubus e carniças”.
Agora, a Nova Jerusalém celestial
onde Deus
lhe espera
Entre o azul e o infinito.

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Saravá, meu poeta! Bem haja pelos momentos de encantamento poético que nos oferece neste seu “Entre o Azul e o Infinito”, que é livro para ler, reler, e nos deixarmos embalar pelos magníficos acordes da música de sua poesia.

Um abraço afetuoso e comovido

Carlos Morais dos Santos

Escritor, poeta, fotógrafo
Membro efetivo do Conselho Consultivo da UBE-RN

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