terça-feira, 6 de janeiro de 2015

CARTAS DE COTOVELO 02 (versão 2015) - CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES.



O ano de 2015 não teve um bom início, confesso. Uma gripe que ainda reluta em não me deixar; as dificuldades de acessar a internet, aliada ao defeito na linha do telefone fixo, da prestadora “Oi”, pela qual pago o ano inteiro para aproveitar um espaço de 30 dias e que, da mesma forma ocorrida no verão passado, somente tem solução após cerca de cinco desgastantes reclamações. A assistência é sofrível e a falta de fiscalização revoltante. Não é justo. Na próxima vez “vou recorrer ao Bispo!”
Contudo, em compensação, do alto do meu alpendre, que dá visão para a pista de veículos que retornam do cone sul para Natal, tenho a possibilidade de contemplar a natureza e o movimento e notei que o cajueiro da minha vizinha Iêda está florindo – bom sinal!
O telhado da parte térrea está coberto de folhas secas e o soprar da brisa, que aqui é constante, promove uma dança cadenciada de idas e vindas, fazendo coro com a sinfonia das folhagens das árvores do entorno da casa, verdadeiro calmante para os momentos de devaneios.
Veículos trafegam provocando aquele barulho característico, mas por ser um tanto distante, não provocam maiores incômodos, salvo alguma moto com o escape mais aberto, na prática da ultrapassagem irresponsável.
Fico a devorar os muitos livros que selecionei com carinho, para os momentos mais agradáveis da praia, iniciando pelo Livro Santo com o Evangelho do Dia, entrecortando a leitura com um filme, igualmente escolhidos com esmero, geralmente os clássicos do cinema, com breves interrupções do tilintar do triângulo do “cavaco chinês”, que me estimula a descer a escadaria para comprar alguns pacotes e violentar a minha diabetes ou, quando o carrinho do “picolé caseiro de Caicó” convoca a meninada que, aos gritos, pedem “vovô manda alguns trocados” para o nosso picolé...
Tais interrupções são anunciadas pelo alarido espetaculoso de Malu e Toddynho, como quando chega alguém fora do convívio comum.
Nessa rotina despretensiosa, o dia vai caminhando, interrompido com os momentos de uma caminhada e banhos de mar, mas logo retornando ao cotidiano, que também convive com peladas improvisadas no alpendre e garagem, com as boladas mais fortes ecoando nas paredes e no portão de metal – alegria dos netos e desespero do avô.
Coisas sérias somente ocorrem com o chamamento dos adultos para a hora o rango.
O véu da noite é iniciado com o retorno dos pássaros em busca do seu lugar de dormir.
As noites são amenas e a parca iluminação permite apreciar melhor o céu recheado de estrelas ou da maravilha da lua, como está agora acontecendo diante de mim até cair o silêncio.
A TV somente os noticiários, pois os outros programas são censurados pelo papo noturno até ser vencido pelo sono, mesmo com a TV ligada até que a alma boa de Dona Thereza, sorrateiramente, pega o controle remoto e apaga os sons do dia.
Agora é esperar os primeiros raios da manhã que começa com os cantares dos passarinhos voltando à rotina da sobrevivência. Levanto e ajudo nas primeiras tarefas da manhã, inclusive na feitura do café e regar o pequeno jardim. E tudo se repete religiosamente.

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