Entre o início da revolução industrial no século XVIII e as primeiras décadas do século XX, a política de “Estado mínimo” – associada à doutrina do laissez-faire - ensejou o aparecimento de oligopólios e monopólios e fez aparecer o lado mais desumano do capitalismo primitivo: o capitalismo selvagem.
Sem nenhuma disposição legal estabelecendo normas de relações de trabalho entre proprietários dos meios de produção e produtores diretos, o padrão empresarial se regulava somente por um dispositivo: obter mais lucro. Nessas condições, o trabalho nas fábricas era terrível: longas jornadas, ambientes insalubres, fechados, sem ventilação e iluminação adequadas. Crianças, idosos e adultos, todos com jornada diária que chega a dezesseis horas, sete dias por semana.
Por outro lado, as cidades recebiam contingentes de camponeses que abandonavam as zonas rurais em crise. Esses novos habitantes urbanos alimentavam a crescente necessidade de mão de obras das indústrias e iam morar em casebres imundos, sem água, luz e esgoto. As cidade mais inchavam que cresciam. Em Londres, Nova York, Berlim, Rio de Janeiro, na Índia, China, Japão em todo parte, os trabalhadores viviam uma vida abjeta e sem esperanças, enquanto as corporações cresciam e se multiplicavam e o comércio se expandia internamente e entre os países, sob a hegemonia do Império Britânico e de outras potencias; todas impotentes para solucionar os graves problemas enfrentados pelos trabalhadores.
As grandes reações ao capitalismo selvagem foram a revolução francesa de julho de 1830, os movimentos de massa que aconteceram na Europa (notadamente na Inglaterra e Alemanha) e, mais tarde, nos Estados Unidos com as manifestações de rua e a greve geral de Chicago, em 1886. Foi nessa época de confrontação que, em fevereiro de 1848, Karl Marx e Friedrich Engels lançaram o Manifesto Comunista, um contra ponto ao Estado mínimo.
Baseado em um projeto de socialismo científico, propuseram uma “fórmula única: abolição da propriedade privada [...], por uma violação despótica dos direitos de propriedade e das relações burguesas de produção [...]. Todavia, nos países mais adiantados, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas em prática”: abolição do direito de herança, confisco da propriedade de todos os emigrantes, centralização bancária e de todos os meios de transporte nas mãos do Estado, trabalho obrigatório para todos. Haviam outras proposituras.
Na mesma linha de reação à desumanidade praticada pelo capitalismo selvagem, em maio de 1891 o Papa Leão XIII publicou a sua célebre encíclica Rerum Novarum, pela qual a Igreja Católica tomou uma posição de confronto com o liberalismo selvagem e com o pensamento dos comunistas. Denunciou a situação de “um pequeno número de ricos e opulentos, que impõem, assim, um jugo quase servil à imensa multidão de proletários”, e se opôs aos socialistas que, “para curar esse mal [...] pretendem que toda a propriedade de bens particulares deve ser suprimida [...]. Mas, semelhante teoria, longe de ser capaz de por termo ao conflito, prejudicaria o operário se fosse posta em prática. Outrossim, é sumamente injusto, por violar o direito legítimo aos proprietários, viciar as funções do Estado e tender para a subversão completa do edifício social”.
Então, usando a lógica da dialética de Hegel, o capitalismo selvagem (tese) teria sido confrontado por comunistas e catolícos (antítese), o que teria dado origem a uma outra forma de capitalismo (síntese), um capitalismo menos selvagem e mais humano.
Tribuna do Norte. Natal, 19 jan 2014.
Tribuna do Norte. Natal, 19 jan 2014.
O Mossoroense. Mossoró, 17 jan 2014.O Mossoroense. Mossoró, 17 jan 2014.
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