http://carloscostajornalismo.blogspot.com.br/2015/01/nao-tenho-medo-da-morte-para-carlos.html
Como as árvores que perdem as folhas para que outras possam nascer e ocupar o lugar daquelas que se foram ao chão e faleceram porque tinham certeza que outra folha ocuparia seu lugar, assim também estou seguindo para deixar minha última folha cair, sem qualquer medo da morte porque essa é a ordem natural da vida: uma coisa precisa morrer para outra nascer e ocupar seu lugar. Já plantei minha semente.
Espero, desejo e tenho fé que produzirá bons frutos. Mas ainda é só um adolescente de 17 anos. Fomos juntos, a decisão do jogo Flamengo X São Paulo, no último dia 25/01/2015, na Arena da Amazônia, levado pela primeira vez pelas mãos do meu filho. Na portaria, fui impedido de entrar com meu depósito de água para tomar remédios. Carlos Filho, mais alto que eu, tirou meu chapéu, chamou a atenção para a falta de meus dois lados do crânio e me defendeu. Entrei com a minha água!
Lembrei do poema de Gibran Khalil, falando sobre filhos, que disse: “teus filhos não são teus filhos/são filhos e filhas da vida, anelando por si própria/Vem através de ti mas não são de ti/E embora estejam contigo, a ti não pertencem/Podes dar-lhes amor(...)Podes abrigar seus corpos, mas não suas almas (...)Tu és o arco do qual teus filhos, como flechas vivas, são disparados.../Que tua inclinação na mão do arqueiro seja para alegria”.
Se não fiz tudo o que diz esse poema, pelo menos estou tentando fazer o que posso, cumprindo meu papel de arqueiro e desejando que meu arco se incline na minha mão de forma correta. Não transfiro minhas ideias ao meu filho, lhe dou liberdade e percebi que já as usa com seu próprio pensamento e toma a decisão que o momento lhe exige. Tive a certeza que poderei partir feliz porque meu filho me dará orgulho no futuro, mesmo que não seja ou esteja presente em sua vida, horando meu nome e de seu avô materno, advogado e político Francisco Guedes de Queiroz, que faleceu pobre mesmo depois de 26 anos seguidos de mandatos parlamentares, como eu também não obtive riquezas materiais; somente intelectuais.
Como o arco meio quebrado, lentamente subi as escadas da Arena da Amazônia, segurando o corrimão da escada e vislumbrei sua beleza pela primeira vez. Estava me sentindo como se meu filho fosse meu pai, cuidando de mim com todo o carinho, me abanando no calor e perguntando a todo momento se eu me sentia bem. Caminho rumo à morte, com Deus no coração. Não temo a morte porque serei feliz, mas temo os vivos que matam em nome de um Deus que é de todos, de um Estado que acham que o certo, promovem barbaridades em nome crenças que entendem ser a mais correta. Enfim, temo mais aos vivos do que aos mortos, porque os mortos não fazem mal a ninguém e vivem felizes. Me penitencio em nome da religião católica. A religião católica, em períodos de sua história impôs também métodos de terror: as Cruzadas, a Inquisição e, mais tarde, Os Cavaleiros Templários, perseguindo e convertendo gentios pela cruz e pela espada.
Tomo banho ouvindo pela janela do banheiro, o grito dos periquitos em uma árvore. Os ouço bem, mas não entendo o que dizem porque ainda não aprendi a entender a linguagem dos animais, como fazia São Francisco de Assis, que conversava com pássaros e outros animais e se fazia entender e entendia no que lhe diziam. Queria eu, ao menos, entender o que querem os homens de preto que degolam pessoas, protestam e matam, impondo o terror, já que não consigo ser e nunca serei como São Francisco de Assis! Nem isso consigo entender, embora tente encontrar uma lógica se é que existe alguma lógica em quem impõe o terror pela força!
A vida, hoje, é uma mera banalidade e uma moeda de troca nas mãos dos fanáticos, sem Deus em seus corações. Pessoas morrem e matam por nada, são individualistas, não pensam no todo, esquecem que ninguém consegue viver isolado em seu próprio mundo e precisa ser gregário, viver em espaços comunitários e respeitar o direito dos outros para ter seus direitos respeitados. Assim é a vida, mas assim não será a morte para quem tem fé e pratica a palavra de Deus! Sou católico, mas não recuso ouvir a palavra de Deus e conhecer os ensinamentos doutrinários da Bíblia! Também convivo bem e aceito todas as religiões; não o radicalismo em nome de qualquer que seja a crença religiosa.
Nascer é uma batalha porque para se ganhar a vida, a pessoa, mesmo em forma de esperma, tem que derrotar várias outras vidas para atingir o óvulo, ser fecundado, passar nove meses espremido em uma placenta para, por fim, ganhar a vida. Viver também não é fácil, mas ser feliz o é porque a felicidade sempre esteve ao nosso lado, mas não sabemos como procurá-la porque queremos sempre mais e mais, somos egoístas, queremos tudo só para nós, impondo sem muita criticidade e análise o que achamos ser o certo. Pode até ser certo para nós, mas pode não ser para todos e a vida é coletiva e não individual.
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